Por mais que os lojistas brasileiros estavam acompanhando o avanço mundial do Covid-19, não imaginavam que a pandemia chegaria no Brasil impactando financeiramente os lojistas e suas atividades comerciais. Parecia algo distante que não impactaria dessa forma o nosso país, no entanto, de supetão as coisas mudaram.

Nos primeiros meses do ano as angústias entre os comerciantes eram basicamente sobre o fluxo dos produtos importados que poderiam diminuir e aumentar de valor. Eles se preocuparam em aumentar a compra para não correr o risco de ficar sem abastecimento por causa dos impactos do Covid aqui no Brasil ou ter que pagar muito mais caro, após o controle da pandemia por lá.

O setor de comércio e serviços no Brasil não estava se preparando para a situação que estamos vivendo hoje. A sensação que tínhamos é que não iria acontecer conosco.

Há muitos artigos e reportagens falando desses impactos sobre o viés econômico, que sim é importante, mas nesse artigo escolhemos trazer os impactos reais vividos pelos empresários, donos de lojas e comércio que tiveram suas atividades suspensas durante o período de quarentena.

1 – Saúde financeira das empresas: existia de verdade?

Tem uma frase, atribuída a Warren Buffte, que diz: “Você só descobre quem está nadando pelado quando a maré é baixa”, e creio que ela ilustra o que de fato aconteceu com a maioria das empresas.

O que estamos vendo nesse período de isolamento social é que muitas empresas não estavam com uma boa saúde financeira.  Muitas empresas que pareciam seguras de si e de seu futuro, na verdade tinham problemas. Vimos que empresas nadavam perigosamente, e agora na baixa da maré se viram descobertas.

Mesmo as empresas que já tinham uma base sólida, com resiliência estrutural, foram surpreendidas e tiveram que reconstruir todo forecast do ano, da maneira mais pessimista e imprevisível possível

As pequenas e micro empresas que realizavam o planejamento e orçamento por meio de soluções improvisadas ou de emergências – buscando sempre preservar as finanças – se viram diante de um cenário complexo. Esses negócios terão que buscar alternativas e soluções para se reinventarem, e não terem prejuízos dos mais diferentes possíveis, como: perda de colaboradores, poder de barganha, investimentos e clientes.

2 – Estabelecimentos comerciais que cresceram

Ao analisarmos os negócios, é possível notar que os mercados e farmácias tiveram um crescimento notório durante esse período de isolamento social.

Aqueles estabelecimentos que já estavam observando o comportamento de consumo da Europa – tendo em vista, que a situação de fechamento dos comércios teve início por cerca de quatro semanas antes –  e já se prepararam aumentando os estoques e adaptando as estratégias no interior nas lojas apresentaram uma boa alternativa para enfrentar os problemas durante a pandemia.  

Exemplo, o Grupo Pão de Açúcar afirmou que teve um crescimento de 100% nas vendas dos produtos, com algumas de suas unidades alcançando até 200% de aumento.

 

3 – Analisando as melhores alternativas diante da crise. Demitir os colaboradores é a melhor saída?

Quando pensamos na diminuição dos custos de uma empresa, logo avaliamos a possibilidade de demitir funcionários. Porém, temos que ter cuidado e atenção ao que empresários de prestígio vem defendendo. Eles afirmam e insistem que essa não é a melhor alternativa.

Para o CEO da Petz, Sergio Zimerman “preservação do emprego é a responsabilidade de cidadania empresarial neste momento”. Luiza Trajano, presidente do conselho administrativo do grupo Magazine Luiza, também alerta para o problema.

É necessário compreender que as demissões em massa são tão perigosas para a economia quanto os comércios fechados.  Neste momento, devemos analisar os riscos e entender, de fato quais são as melhores ações a serem tomadas.

Para pensar e ponderar questões sobre a gestão de crise é essencial levar em conta vários fatores que envolvem essa problemática (fluxo de caixa, gestão financeira, a atividade econômica exercida e etc). Por isso é essencial entender, antes de tudo, as questões verdadeiras que a nossa empresa vive, para então conseguir planejar e executar as melhores ações a serem tomadas.

 

4 – Importância de olhar para a saúde emocional dos donos de empresa e seus liderados

 Sabemos que estamos diante de um cenário de insegurança, onde ainda não podemos prever os riscos que cada empresa terá. Entretanto, é preciso cuidar da saúde emocional de todos os colaboradores da empresa. Buscando manter o controle ao máximo possível e considerando que depois da crise, enfrentaremos novos desafios.

O isolamento social já gera sentimentos complicados, como: angústias, tristeza, solidão e afiliações. Diante disso, como líderes responsáveis, devemos motivar os colaboradores e assegurar a importância deles para o bom andamento no negócio.

Com base em pesquisas na área de comportamento organizacional, sabemos que ameaças e/ou críticas não geram bons rendimentos para a empresa. Pensemos então: “como vão me enxergar depois que isso tudo passar?”.

Afinal pode ser que sua empresa não seja apenas abalada pelos efeitos do COVID-19, mas sim pelo despreparo de se conduzir pessoas em momentos de crise.

5 – Dicas para comerciantes enfrentarem essa crise

#1  Não foque no noticiário o dia todo.

Não fique o dia inteiro assistindo somente jornais, principalmente sendo apenas na mesma fonte. Troque de canal, veja outros portais e revistas. Veja apenas o necessário para se manter informado em relação às mudanças políticas que podem afetar seu negócio. Às vezes assistir um documentário e/ou uma série inspiradora pode trazer mais ideias e descanso mental do que focar nos noticiários.

#2  Aproveite os fóruns de discussão.

Existem muitos webinars e fóruns de discussão interessantes rolando desde o início da quarentena e neles você poderá ouvir opinião de outros grandes líderes que podem ajudá-lo no sentido de trazer reconforto nesse momento.

Por exemplo, há os debates da XP que acontecem diariamente pela plataforma digital Zoom e ficam registrados no YouTube para quem não conseguir acompanhar ao vivo.

#3 Crie um novo forecast

Comece a escrever quais as estratégias para reabertura do seu negócio em diferentes cenários. Muitos especialistas têm apostado em uma reabertura real (liberada pelo governo e com clientes em circulação) dos comércios em junho.

Para muitos segmentos tidos como essenciais a abertura já ocorreu, porém estes também devem cumprir todas as recomendações necessárias.  É melhor “chutar” uma data pessimista e uma otimista do que ficar no escuro.

#4 Novas estratégias de marketing.

É necessário reescrever também o planejamento da equipe de marketing, pois os apelos promocionais não sensibilizarão o cliente da mesma forma. Deve-se considerar não só as mudanças do perfil de clientes, mas levar em consideração questões como: endividamento, perda de emprego e modelo menos impulsivo de compras devido ao temor dos gastos.  

Os controles financeiros são e serão ainda mais necessários. É preciso focar na nova limitação de recursos da empresa, o que é necessário cumprir de forma mais urgente, estabelecendo quais produtos realmente trarão a margem que se precisa para retomar o caixa.

#5  Prepare-se para a mudanças.

Todos voltarão diferentes após a crise, inclusive seu cliente. A tendência é que ocorra um avanço rápido da digitalização dos consumidores, incluindo os mais temerosos. Além disso será necessário rever os planejamentos financeiros e reconsiderar os hábitos de higiene. Vale pensar de que forma o seu comércio será afetado para cada uma das mudanças sofridas no comportamento dos consumidores.

#6  Tenha consciência social e ajude.

Vamos fazer um exercício de imaginar como sua empresa pode dar suporte a fornecedores, prestadores de serviço, a comunidade e aos colaboradores. Busque alternativas solidárias. Revisite seu propósito e, diante das suas atuais condições, seja criativo em pensar como pode contribuir socialmente nesse momento.

#7  Garanta a melhor equipe para o seu negócio.

Caso não tenha outra alternativa e tenha que fazer os temidos desligamentos, considere arriscar como um investimento o que for necessário para manter as melhores cabeças da empresa ao seu lado, você precisará delas para retomar o negócio. Não caia na armadilha de achar que está sempre certo e vai dar conta de tudo perfeitamente sozinho.

#8  Mantenha a calma.

Na medida do possível isso vai te ajudar a tomar menos atitudes que possam se arrepender depois. Reflita antes de tomar as ações. Pense que o momento atual é um cenário novo, desconhecido e complexo para todos de forma mundial. As respostas não estão dadas, elas terão que ser construídas por nós. 

 6 – Concluindo

De forma geral, entendemos e estamos ciente que essa situação vivida por causa do isolamento social gera um paradoxo na vida dos comerciantes e empresários. Estamos diante de uma situação de incertezas, sem previsão de reabertura dos estabelecimentos comerciais.

Sabemos que dentro desse cenário, não podemos ser negligentes e não nos preocupar com a vida e saúde das pessoas. O que devemos fazer é criar alternativas para não ocorrer tantas perdas financeiras nesse período de reclusão.

 

 

 

 

 

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Escrito por Lívia Freitas

Autora convidada Vamos Escrever, é bacharel em marketing (USP), pós-graduada em marketing estratégico (Mackenzie) e cursando MBA em gestão de varejo e mercados competitivos (USP). Atualmente é responsável pelo planejamento e implementação do Plano Estratégico de Marketing da rede de lojas Indaiá. Coordena as áreas de Pesquisa, Marketing Digital e inteligência competitiva, assim como o desenvolvimento de Campanhas de Trade Marketing e Comunicação. 📩liviafreitas@vamosescrever.com.br Saiba mais sobre o autor