O sistema tributário afeta diretamente o nosso dia a dia, mesmo quando não percebemos. Desde a compra de um simples produto no supermercado até serviços de saúde, educação ou entretenimento, tudo envolve tributos. E no Brasil, essa estrutura sempre foi conhecida por sua complexidade. Com múltiplos tributos sobre consumo, como ICMS, ISS, PIS e Cofins, nosso país se tornou um dos mais complicados do mundo quando o assunto é tributação indireta.

Diante disso, a tão aguardada Reforma Tributária finalmente começou a se tornar realidade. Por meio da Emenda Constitucional nº 132/2023, o Brasil caminha para substituir o atual modelo, com base em cinco tributos distintos, por dois novos impostos: a CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços) e o IBS (Imposto sobre Bens e Serviços). A CBS será de competência federal, enquanto o IBS será de responsabilidade dos estados e municípios.

Mas como implementar uma mudança tão ampla e estrutural de forma segura, gradual e sem comprometer a arrecadação ou sobrecarregar as empresas? Para isso, o governo federal lançou o Projeto Piloto da CBS, uma etapa prática e voluntária que permite que empresas participem dos testes do novo sistema antes de sua obrigatoriedade. Trata-se de um ambiente simulado, mas essencial para identificar ajustes e promover capacitação, bem como garantir segurança jurídica.

Neste artigo, vamos entender: 

  • O que é o piloto da CBS
  • Como ele funciona
  • Quem pode participar
  • Quais são os prazos e critérios de adesão 
  • Qual a importância estratégica dessa iniciativa para a transição do modelo tributário nacional

O que é o Projeto Piloto da CBS?

O Projeto Piloto da CBS é uma iniciativa da Receita Federal do Brasil que tem como objetivo simular, em ambiente real, a aplicação das regras da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), o novo tributo que substituirá PIS e Cofins. Em outras palavras, as empresas selecionadas irão testar o novo modelo tributário com base em seus dados reais de operações, sem que haja recolhimento efetivo de tributos. O piloto é, portanto, um projeto de teste, aprendizagem e validação.

Essa prática é amplamente utilizada em políticas públicas estruturais, permitindo que legislações complexas sejam testadas de forma restrita e controlada antes de entrarem em vigor. No caso da CBS, o piloto possibilita que a Receita Federal, em parceria com as empresas participantes, verifique:

  • A viabilidade técnica dos sistemas de escrituração e apuração da CBS;
  • A aderência das regras de crédito e débito previstas;
  • O grau de compreensão das normas por parte dos contribuintes;
  • A performance da Nota Fiscal com padrão nacional (NFCBS).

Além disso, o projeto servirá para que o Fisco colha sugestões, corrija inconsistências e prepare melhor tanto a administração tributária quanto o setor produtivo para a transição definitiva.

Como funciona o Piloto da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS)?

O piloto ocorrerá por meio de um ambiente simulado, contudo, utilizando dados reais, em que as empresas participantes enviarão periodicamente informações de suas operações. O envio deve acontecer por meio de documentos fiscais emitidos conforme o novo modelo de nota fiscal (Nota Fiscal de Padrão Nacional – NFP). Essas informações serão processadas pelo sistema da Receita Federal, e a apuração da CBS será simulada com base nessas entradas.

Importante ressaltar: não haverá cobrança de tributo durante o piloto. O objetivo é apenas simular a sistemática de apuração da CBS com base na nova legislação e nos documentos eletrônicos padronizados.

A Receita Federal já disponibilizou um ambiente de testes no portal SPED para permitir que as empresas e seus desenvolvedores comecem a integrar seus sistemas ao novo modelo da NFP. Isso significa que, além da apuração simulada da CBS, haverá também testes de integração tecnológica, ponto sensível para empresas que operam com ERPs e softwares de gestão fiscal.

Segundo a Receita Federal, o projeto-piloto seguirá até dezembro de 2025, e os aprendizados serão fundamentais para ajustes normativos e técnicos que antecedem a fase obrigatória da CBS, que tem previsão para entrar em vigor em 2026.

Quem pode participar do piloto?

A adesão ao piloto é voluntária, contudo, está condicionada a uma seleção técnica por parte da Receita Federal. O objetivo é montar um grupo de empresas que ofereça diversidade setorial, regional e tecnológica, garantindo assim contemplar diferentes realidades nos testes.

Critérios de seleção

Segundo divulgação de informações pelo Governo Federal no portal de serviços (gov.br), os critérios para participação incluem:

  • Estar em situação regular perante o Fisco;
  • Ter estrutura tecnológica mínima para emissão da nova Nota Fiscal de Padrão Nacional (NFP);
  • Atuar em diversos setores da economia, com preferência para empresas com perfil representativo da atividade econômica nacional;
  • Demonstrar interesse real em colaborar com o projeto, comprometendo-se com o envio de dados durante o período de testes;
  • Participar de capacitações e interações com a Receita, caso solicitado. Empresas de grande porte ou então que já integram grupos técnicos com o Fisco podem ter prioridade na seleção. A ideia é garantir que a base de testes traga riqueza de informações e contribuições qualificadas.

Prazo para adesão

A Portaria RFB nº 399, de 29 de abril de 2025,  estabeleceu o prazo para manifestação de interesse no piloto da CBS, e está vigente até 31 de agosto de 2025. As empresas com interesse devem se inscrever através do serviço específico disponível no portal gov.br, acessando o item “Aderir ao piloto da CBS”.

Após o cadastro, a Receita Federal fará a análise das candidaturas, entrando em contato com as empresas selecionadas para formalizar os termos de participação e iniciar a integração ao ambiente de testes.

A expectativa é de que os primeiros resultados concretos comecem a ter análise no segundo semestre de 2025. Dessa forma, passarão a embasar a regulamentação definitiva do novo sistema tributário.

Conclusão

O Projeto Piloto da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) é mais do que uma etapa isolada dentro de um plano técnico de transição. Trata-se de um marco no planejamento, desenvolvimento e validação prática da Reforma Tributária brasileira

Em um país onde o sistema de arrecadação é historicamente complexo, com sobreposição de competências e insegurança jurídica, a adoção de uma fase estruturada de testes demonstra maturidade institucional e respeito ao contribuinte, bem como o compromisso com a qualidade da política pública.

A experiência internacional comprova que reformas tributárias bem-sucedidas não acontecem do dia para a noite. Nesse contexto, o piloto da CBS cumpre o papel estratégico de testar a viabilidade do novo sistema tributário, antecipando problemas e aperfeiçoando processos.

Para as empresas participantes, o piloto possibilita uma preparação e permite que elas compreendam profundamente o novo modelo.

Já para o governo federal e para a Receita Federal, o piloto é uma ferramenta essencial para consolidar a regulamentação da CBS de forma mais realista. Os dados ajudarão a calibrar alíquotas, definir critérios técnicos e ajustar o layout da Nota Fiscal Padrão Nacional. Além disso, servirá para identificar pontos críticos na comunicação entre os sistemas das empresas e os do Fisco.

Em resumo, participar do piloto da CBS é assumir um papel ativo na transformação do sistema tributário brasileiro, contribuindo para a construção de um modelo mais justo, moderno e funcional. 

Que essa etapa de testes seja vista, portanto, não como um mero ensaio, mas como a fundação concreta de uma reforma histórica que, bem conduzida, poderá finalmente colocar o Brasil em sintonia com as melhores práticas tributárias do mundo.

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Autor convidado do Vamos Escrever, é bacharel em Ciências Contábeis e pós-graduado em Gestão da Qualidade Total, é professor universitário na área de Contabilidade Auditoria, Tributária, Fiscal e Perícia. Atua na área como Contador, e nos tempos livres, é admirador de belas-artes e leitor de História e Filosofia. 📩leonardopaganini@vamosescrever.com.br Saiba mais sobre o autor